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saudade

 Estou com saudades, e isto pode soar estranho, pois ainda estamos aqui, à sós.  Mas essa saudade antecipada, é por sentir que qualquer lugar hoje pode ser minha casa, mas só você é meu lar. Só em nós encontro o aconchego que paredes vazias não proporcionam.  E então te olho adormecida em meus braços, ouso puxar-te para ainda mais perto. Afago seus cabelos e te espero mansamente despertar. O seu olhar me transmite uma serenidade profunda.  Faltam poucas horas para que a rotina nos roube do paraíso. Mas acordei ao seu lado, e me sinto preparado para enfrentar qualquer inferno, munido dessa paz que você me dá. Envolto na esperança de que amanhã pela manhã, você ainda estará aqui. Em mim.

No vazio do silêncio

  Eu queria escrever. Pois só assim me livro da agonia de sentir demais.   Queria por num amontoado de palavras a imensidão do que sinto. Mas hoje, as palavras me abandonaram. Logo elas que sempre me foram abrigo, hoje me deixaram só.  E por mais que eu me force e me obrigue a transpor sentimentos tão intensos sobre uma folha em branco, me parece um esforço em vão. Hoje, as palavras que me acalentaram por toda a vida, não me querem confortar. Apenas sumiram, dando lugar a um vazio que parece querer me consumir.  Então me calo, e ouço quieta minha mente barulhenta pedir socorro. Hoje, nem mesmo eu quero me salvar.

Estruturas

 Os detalhes são fundamentáveis, mas pouco observados.  Muito antes de um prédio inteiro desabar, ranhuras, rachaduras e outros sinais aparecem na construção. Se espalham tomando aos poucos partes importantes, mas pouco observadas.  E aumentam, vagarosamente. De forma com que não seja possível notar no dia a dia de passos rápidos.  Quando começa a ser perceptível o tamanho do estrago, pode até ser tarde demais. E parte da culpa, é da constante ausência de atenção. Foi assim com a gente. Com a estrutura do que fomos juntos.  O problema estava ali, localizado. Se espalhou, mas ninguém notou. E quando foi observado, procuramos com pressa por culpados ao invés de investir em reparos imediatos. Apontamos dedos, julgamos, mas não tentamos a única coisa necessária. Consertar.  A estrutura foi comprometida. Culpados foram listados, o local foi interditado e o que restou foi ver sua demolição acontecer. Já não havia o que ser feito para que o mantivessemos de pé aquele amor. Foi desfeito,

Hora do adeus

 Meu oi, vira do avesso e se faz adeus em cada chegada. Sinto que estou indo, embora não saiba para onde. Mesmo que ainda queira poder ficar.  Tenho andado a passos lentos em direção à porta de saída. Esperando que por alguma razão, você me puxe pelo braço e me alcance pedindo para ficar, fazendo parecer loucura tomar esta decisão.  Mas a cada passo, não há impedimento. Não encontro dificuldade na partida. Nem mesmo o seu abraço parece querer me segurar suficiente para se estender por mais um tempo. E quando me aproximo, sinto doer ter de tomar uma decisão.  Decisão esta que, pelo pesar que sinto, pareço já ter tomado. Ainda que desistir de nós nunca tenha sido minha primeira opção, as entraves contra as quais vivo me esbarrando, me fazem sentir que já não caibo por aqui.  Sinto que vivo fazendo um esforço sobrehumano para me encaixar nos seus detalhes, e essa crueldade jurei não mais cometer contra mim. Meus pedaços importam, e com todos, não me encaixo em você. Mas sem qualquer u

O tempo

 O tempo é o nosso ativo de vida mais importante. É precioso e escasso. E quando percebemos isso, passamos a desperdiçá-lo cada vez menos.  Já faz uns anos desde que abri mão de discussões irrelevantes. É aquela fase da vida em que a gente olha a pessoa nos olhos, silencia e segue adiante, com tranquilidade e paz na alma em saber que certas situações não valem o desgaste.  Eu não compito mais com quem quer me ver fora do eixo. Cada minuto conta sim, cada sorriso vale ouro. E os estresses? Eu passo. Deixa pra quem tempo tem à perder. Coisa que eu, definitivamente, não tenho mais.  Opto por sorrir pra vida. Por empenhar minha energia em fazer o bem. Em ser pra quem amo a minha melhor versão, sem precisar de reparos ou enfeites. Ser esse riso escancarado no rosto com esse coração onde só faz verão o ano todo.

Voyeur

 Sou o olhar por detrás da tela, à espreita.  E você, meu objeto de obsessivo desejo. Que hora me alimenta de informações sobre o seu dia, hora me desnorteia ocultando sua vida.  Trás à público suas facetas de êxtase e felicidade, e sem mais nem menos, fecha as janelas por onde de voyeur a observo. Aflorando em mim um desejo por mais. Mais frestas, mais vistas, mais pele, mais cor.  Me intriga. E talvez seja isto que me incentiva a buscar sempre mais.  Das linhas em que se entrega, sei de sua lascívia. Do seu ego e desse desejo incontrolável de se mostrar. Em observação silenciosa pensamentos ecoam: mostre-me mais.  Das que se oculta, crio séries intermináveis de hipóteses, que me alucinam. Ampliando um desejo por você, por tudo que ocultas de mim.  Daqui de onde te vejo, não me enxergas. Mas se pudesse, veria o brilho ansioso em meus olhos por mais pistas perdidas ou previamente concedidas. Por mais peças que eu possa encaixar neste quebra-cabeças do seu mundo que nem sei ao cer

Ela

 Naquele curto espaço de tempo não haviam empecilhos para o riso contagiante que ela trazia. Havia um ar de novo mundo, e embora eu não possa especificar de onde viera, era perceptível sua constância.  Enquanto o mundo se contorcia em penumbras, havia dentro dela um coração flamejante cujo exprimia sonhos tão intensos que eu me permitia sonhar também. Ela era um tipo incomum, e irradiava uma luminosidade vívida.  Quando dei por mim já a observava com frequência, com olhos de quem a queria bem mais do que poderia ter. E se nisso houver crime, não me seria infortúnio pagar por ele. Seria eu então culpada, e sem arrependimentos.  Sempre que a via ela sabia.  Era impossível não notar que seu riso complacente era motivado pelo meu olhar atrevido. E como ria, aquele ser. Indomável e intensa, com uma beleza infinda, que mal lhe cabia em seu próprio ser. Era algo que vinha de dentro, bem antes de simplesmente estar em si.  Me arrancou olhares, atenção e afeto. Me cativou, e nem sei quando.